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Deus

Arnaldo Antunes / Madan

Deus, avoa.
No vento onde deve haver deus
Vivo, não visto
No que se não vê.
Deus sem milagre,
Deus sem ateus.
Além do seio dos seus
E de seus anseios.
Além dos braços dos seus
E de seus abraços.
Além dos bentos, dos rebentos
Dos ovos,
Sobe aos céus.
Sai da boca qual palavra.
Qual palavra se perca.
Deus pecado.
Indecifrado.
Incomunicado.
Chova de baixo pra cima.
Além dos lares dos seus
E de seus olhares.
Qual palavra não se cumpra.
Qual palavra não venha na hora agá.
Deus-ar, não venha.
No ar se mantenha
Intocável
Irrespirável
Incomunicável.
Chova de cima para o alto
Deus sem pouso,
Deus sem repouso,
Agora e sem
Deus, avoa.

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A Ópera do Rinoceronte, Madan, Dabliu, 1999

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