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Budismo Moderno

Arnaldo Antunes / Augusto dos Anjos

 

Tome, Dr., essa tesoura, e... corte

Minha singularíssima pessoa.

Que importa a mim que a bicharia roa

Todo meu coração, depois da morte?!

 

Ah! Um urubu pousou na minha sorte!

Também, das diatomáceas da lagoa

A criptógama cápsula se esbroa

Ao contacto de bronca dextra forte!

 

Dissolva-se, portanto, minha vida

Igualmente a uma célula caída

Na aberração de um óvulo infecundo;

 

Mas o agregado abstracto das saudades

Fique batendo nas perpétuas grades

Do último verso que eu fizer no mundo!

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Ninguém, Arnaldo Antunes, BMG, 1995

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